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    2019-06-12

    Estes números dão um indício do clima de insegurança, e muitas vezes de terror, que pairou sobre o país no período. Este ambiente foi explorado em diversos sentidos pelo regime fujimorista. De um lado, atribuiu para si o mérito de ter desarticulado endothelin receptor antagonists insurgência e pacificado o país, o que lhe rendeu alta aprovação, levando muitos a minimizar as infrações à democracia como uma espécie de dano colateral. Por outro lado, o regime manipulou o medo disseminado na sociedade com o objetivo de se autolegitimar, justificando a perpetuação de mecanismos jurídicos, políticos e militares característicos de um estado de exceção, mesmo com o declínio do conflito. Além da perseguição jurídica facilitada por uma draconiana legislação antiterrorista, a presidência autorizou o assassinato e a desaparição de professores, estudantes, camponeses e líderes operários, a pretexto de uma luta contra a subversão. Frequentemente, as mortes foram atribuídas a Sendero, como no assassinato do sindicalista Pedro Huilca, crítico contumaz das políticas do regime. No campo, a manutenção do estado de emergência significou que as Forças Armadas continuaram como a autoridade máxima em muitas partes do território. No plano econômico, são conhecidos os efeitos da combinação entre estabilização e reforma estrutural nos marcos do neoliberalismo. A inflação foi controlada por meio de mecanismos que levaram a uma apreciação cambial combinada ao aumento das importações, que teve efeitos destrutivos sobre a indústria nacional agravando os déficits em transações correntes, cobertos por privatizações e empréstimos do fmi. Logo, a dívida externa dobrou durante o governo Fujimori, atingindo 53% do pib (cifra bem mais alta do que Chile, México ou Brasil), enquanto os pagamentos anuais quadruplicaram. O crescimento de 59% das exportações entre 1989 e 1998 não acompanhou a explosão das importações, que subiram 264%, tornando a balança comercial deficitária em toda a década. Reforma do mercado de capitais, reforma tributária, reforma endothelin receptor antagonists do mercado de trabalho e privatizações generalizadas complementaram a abertura comercial. Em suma, foi desmantelado o que restava das estruturas velasquistas na cidade como no campo, onde foi implementada uma “reforma da reforma agrária”. A informalização do trabalho e a dermis economia delinquente cresceram aceleradamente: ao longo dos anos 1990 dobrou o número de trabalhadores com contrato de trabalho temporário enquanto o subemprego atingia 3/4da população economicamente ativa no final do decênio. A ideologia que transforma a precarização das relações de trabalho, de problema social em oportunidade empreendedora, prosperou neste meio. Embora os limites desta política econômica já se evidenciassem no final dos anos 1990, a queda do regime foi precipitada fundamentalmente por motivos políticos. Solução traumática para uma sociedade traumatizada, o “fujimontesinismo” de que fala Quijano ruiu por dentro, mas também foi empurrado por fora. Os escândalos detonados pela circulação dos “vladivídeos”, gravados por Montesinos para disciplinar seus sequazes e que documentavam a corrupção endêmica do regime, afloraram em um momento de ascendente contestação nas ruas, intensificadas após eleições presidenciais fraudulentas em 2000. Na realidade, a própria participação de Fujimori no pleito era farsesca, já que a constituição por ele mesmo promulgada proibia um terceiro mandato. Também os Estados Unidos acenaram com o fim do apoio ao regime, acelerado quando veio à tona uma operação que envolvia Montesinos com o narcotráfico e as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (farc). Confrontado com a corrosão do aparato de poder que ergueu, o protesto nas ruas e o constrangimento estadunidense, Fujimori enviou sua renúncia por fax do Japão em 2001. O fato de que o ditador caiu do poder em lugar de descer foi significativo, pois propiciou o clima para a investigação do conflito interno peruano sob a coordenação da cvr, que apesar de seus limites e dificuldades, iluminou a história recente peruana, além de subsidiar o julgamento de numerosos criminosos por crimes mais graves do que a corrupção, entre eles o próprio Fujimori.